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Quinta, 22 Dezembro 2016 18:09 |
Associação quer que escolas aceitem mudança de nomes de crianças transsexuais. Ministério da Educação está a analisar a proposta.
Texto de Catarina Gomes Foto de Enric Vives-Rubio
 A Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual (AMPLOS) propôs ao Ministério da Educação que as crianças transgénero possam usar, em ambiente escolar, um nome que esteja de acordo com o género com o qual se sentem identificadas, diz a sua presidente, Margarida Faria. Ao PÚBLICO o ministério faz saber que a proposta está a ser analisada em conjunto com o gabinete da secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade.
As crianças transgénero são aquelas cuja identidade de género — a identificação psicológica enquanto menino ou menina  — não corresponde ao sexo que lhes foi atribuÃdo à nascença. Em 2013, a Alemanha tornou-se o primeiro paÃs europeu onde é mesmo possÃvel inscrever no bilhete de identidade de uma criança uma terceira opção para além de “feminino†ou “masculinoâ€: “sexo indefinidoâ€.
Em Portugal, o último apelo que chegou à AMPLOS, associação vocacionada para dar apoio a pais neste tipo de situações, veio de um rapaz de 15 anos. Pediu à escola para passar a ser tratado por um nome masculino, embora “oficialmente†tenha nascido do sexo feminino. Nesta decisão não foi apoiado pela mãe. “Ele teve a coragem de se apresentar à escola, a escola deveria reconhecê-loâ€, defende a responsável da associação.
A lei portuguesa apenas permite a mudança de identidade civil a partir dos 18 anos (no ano passado 70 adultos alteraram o sexo nos seu documentos de identificação). Existem actualmente duas propostas de lei sobre identidade de género, uma do Bloco de Esquerda, outra do PAN-Pessoas-Animais-Natureza, no sentido de fazer descer esta idade para 16 anos. A proposta do BE contempla mesmo a possibilidade de mudança de identidade civil para crianças, mas fá-lo “muito timidamenteâ€, considera a responsável da AMPLOS.
Contudo, explica, a questão da identidade de género manifesta-se ainda na infância. “As pessoas transsexuais sabem que são do género oposto com quatro, cinco anos; o que não acontecia dantes era a liberdade de virem falar de si próprios no espaço públicoâ€, prossegue Margarida Faria. “Há crianças que já têm essa situação muito resolvida e têm de viver com o nome do género errado até aos 16 ou 18 anos, o que é muito complicado.â€
São vários os pais “de crianças de expressão de género não binário†a pedir apoio, tanto que criaram um núcleo para a infância com uma página especÃfica no Facebook da associação (Espelho Eu).
Verbalizar aos sete anos A verbalização perante os pais pode acontecer aos sete anos, de forma clara. A partir desta idade há crianças aptas a fazer a sua transição social, diz Margarida Faria, assumindo-se com o género com o qual se identificam, razão pela qual a AMPLOS entende que os registos escolares deviam ter o nome da criança ajustado. “Isso é fundamental para a sua auto-estima e para a sua integração social.â€
No final de Novembro a AMPLOS entregou ao Ministério da Educação a “Proposta de Adopção de Medidas nas Escolas face à Diversidade de Expressão e Identidade de Género na Infânciaâ€, na qual reitera que, mesmo não sendo ainda possÃvel à s crianças mudar de nome no registo civil, é importante que sejam aprovados procedimentos para serem usados de forma uniforme em todas as escolas, permitindo que as crianças possam usar em ambiente escolar o nome ajustado à sua identidade de género. “Seria o primeiro passo. Já seria muito importante que a escola reconhecesse e que saiba o que são crianças ‘trans’, que se arranjasse meios para ouvir os miúdos, mesmo quando não são aprovados pelos pais.â€
“Temos várias famÃlias nesta situaçãoâ€, conta ainda. Neste momento, há pais de menores que têm de ir à s escolas pedir para os filhos usarem o nome do “género sentidoâ€, mas tudo depende “da abertura e boa vontade†da escola. Margarida Faria diz que “é da maior urgência uma medida definida pelo Ministério da Educação a ser cumprida pelos agrupamentos escolares, independentemente da boa vontadeâ€. Lembra por fim que há alguns paÃses a permitir a mudança de nome ainda na infância (como Argentina, Malta e Noruega) e recorda o caso de uma mãe mexicana que teve de ir para tribunal para conseguir a mudança de nome da filha, quando esta tinha 9 anos.
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National Geographic dá capa a menina transgénero Mais recente é a polémica em torno da revista norte-americana National Geographic. Para o seu número de Janeiro quis fazer história escolhendo a imagem de uma criança transgénero, uma menina americana que nasceu oficialmente rapaz. Avery Jackson, a criança de nove anos do Kansas (EUA), diz orgulhosamente que a melhor coisa de ser rapariga “é não ter de fingir que é um rapazâ€. O número temático dedicado à “revolução do género†tem suscitado debate nos últimos dias e até levou a directora revista, Susan Goldberg, a ter de explicar porque escolheram aquela imagem de capa.  “Desde que partilhamos a nossa capa, milhares de pessoas deram-nos as suas opiniões, que foram desde a expressão de agradecimento e orgulho até manifestações de fúria. Vários garantiram que iam cancelar as suas subscrições da revistaâ€, admitiu. “Estes comentários são uma pequena parte de uma discussão muito profunda que está a decorrer sobre as questões de género." Num dos artigos deste número, para o qual foram visitadas crianças em vários paÃses do mundo, Avery apresenta-se “como uma rapariga abertamente transgénero desde os cinco anosâ€, que conta com apoio dos pais que nada sabiam sobre o tema até se verem confrontados com ele.
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